A eleição para nova Mesa Diretora da Assembleia Legislativa do Maranhão, realizada ontem, na qual a presidente Iracema Vale (PSB) foi reeleita para o biênio 2025/26 após empatar, em dois escrutínios, com o deputado Othelino Neto (SDD), trouxe à tona um cenário que vai muito além da disputa entre os dois parlamentares.
A arapuca montada, e que por muito pouco não deu certo, visava não apenas retomar o comando do Palácio Manuel Beckman, como também atingir, fatalmente, o governador Carlos Brandão (PSB) a partir do início do ano que vem.
O Palácio dos Leões, com seu amplo leque de aliados, não conseguiu detectar o que estava por vir.
Frio, Othelino adentrou o plenário Deputado Nagib Haickel não com certeza da derrota.
Tinha na sua conta, para garantir a vitória, nada menos que os votos de 25 pares [26 com o seu].
A construção disto foi arquitetada do planalto para planície e envolveu políticos e políticas que, em público, se dizem amigos e parceiros do governador.
Como as votações para presidente e demais cargos aconteceram de maneira secreta, com uma cabine instalada no plenário, os referidos sentiram-se à vontade para colocar em prática o que havia sido combinado.
Othelino tinha o apoio declarado [ e escamoteado na situação, é claro] do ex-governador e hoje ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino.
O ex-senador, que abdicou do mandato para ingressar no STF, dando lugar na Câmara Alta à esposa do seu aliado, a enfermeira Ana Paula Lobato (PDT), inclusive, ligou para o deputado após o resultado do primeiro turno do pleito interno, fato, este, testemunhado por jornalistas que estavam no comitê de imprensa da Alema acompanhando os trabalhos.
O bacharel em Direito Diego Galdino, ex- número 2 do Ministério da Justiça e Segurança Pública, pasta que foi dirigida por Dino, e, hoje, número 1 do Ministério do Esporte, que tem como titular o maranhense André Fufuca (PP), esteve pessoalmente na Assembleia Legislativa buscando angariar votos em favor do ex-presidente através de chamada de vídeo, por exemplo.
A articulação Pró-Othelino teve participação direta não apenas do ex-governador, como também de deputados federais, quais sejam Márcio Jerry (PC do B) e Josimar de Maranhãozinho (PL); ministros do governo Lula; três senadores; empresários extremamente capitalizados; e de outros agentes políticos que se dizem do campo dos Leões.
Na noite anterior ao pleito, vale destacar, uma reunião realizada na capital, que envolveu quatro políticos com importância nos cenários de São Luís e do Maranhão, fortaleceu, ainda mais, a “irmandade” direcionada para a disputa majoritária de daqui a dois anos.
A manobra era simples: após obter vitória, a partir de fevereiro, quando a nova Mesa seria empossada, trabalhar nos bastidores para destronar Carlos Brandão do cargo.
Isto mesmo. Um impeachment estaria por vir.
Chamou a atenção uma outra ponta da articulação relacionada aos lançamentos de outras duas candidaturas avulsas, além da de Othelino.
Fatalmente, acreditem, se o ex-presidente tivesse sido eleito novamente para o cargo, os projetos de emplacar o primeiro vice-presidente e o primeiro secretário da futura Mesa Diretora, cargos fundamentais para que se tenha estabilidade, também teriam dado certo.
Os demais eleitos para o colegiado, na chapa de Iracema, a partir do ano que vem, viriam pelo “beiço”, como se diz no popular.
Então, se formos citar perdedores ou derrotados, estes foram Othelino e aliados.
Afinal, pelo menos cinco votos ficaram pelo meio do caminho.
Já Iracema Vale…
Esta pode se considerar vencedora.
Os que votaram na sua reeleição o fizeram por convicção, não cedendo as mais variadas formas de cooptação que foram utilizadas.
Já ao Palácio dos Leões, cabe informar em alto e bom som: o recado, governador, foi dado.
E muito bem dado.